sábado, abril 23, 2005

Twapandula

Um agradecimento enorme e beijos e abraços do tamanho deste mundo e do próximo aos Twapandula e ao barbudo que supera todos os dias o mito do pai natal (pedro monteiroooo), por noites como a de ontem (que fique registado: 22 de Abril de 2005 - café-concerto no liceu), em que demos cabo das mesas do poli aos saltos ao som d' "O Homem do Leme" dos Xutos, a mítica música da sala 325, da "Angel Song" dos Silence 4, de "Nothing Else Matters" dos Metallica, de Pearl Jam,... Noites em que o céu se abre em estrelas só para nós, em que se perdem facalhões e se dão as maiores brancas de sempre, percalços que tornam a vida e o teatro uma arte única e extraordinária, que superou em 200% os nossos últimos ensaios que prenunciavam desastre... Por todos os risos, todos os abraços sufocantes, por todos os berros, por todas as penumbras e horas de concentração, todas as músicas, todas as velas, todos os saltos, todas as correrias, por todo o nervosismo e brincadeiras, todas as cavalitas e jogos do eixo, por todos os palcos, por todas as vozes, todas as epifanias, por todos os tomates, por todas as estreias e antestreias, por tudo. Pela paixão que é o teatro. Uma coisa é certa. Nunca me hei-de esquecer estas 19 pessoas. Vão comigo para onde for. Tenho mais que dito (tenho sentido).

quarta-feira, abril 20, 2005

Poetiza


Voando livremente
na garupa de um cavalo de vento,
galopando além de um mundo
envolto em fumo e nevoeiro,
além do último firmamento,
fugindo do respirar profundo
da terra que te escorre.

Um poeta nasce para a luz
radiante e quente
do sol feito criança,
numa manhã intocável
para carne de gente.

Um poeta que é homem e deus
num súbito duelo de almas iguais.
Que floresce nalgum jardim
perdido a olhos de mortais.
Que faz rugir as águas sem fim
de um mar secreto e fundo
e rebentar as caldeiras
de fogo, dos pulmões do mundo...

Um poeta que se alimenta
do perfume do ar e na beleza
que toma acalma a sua sede de amar.
Criatura despida de pudor
e pele tresandando amor.
Olhos banhados por lágrimas
de um mendigo,
que vagueia solitário
por ruas do Inferno
escondido na noite,
à procura de quem amou,
ao gelo, à chuva, ao frio,
aquecido por um coração de fera
que um dia se tornou
carne e sangue
e em carne e sangue se entregou
à Vontade de Ser Poeta.

No seu trono de nuvens
numa Lua de sonhos,
olha os bichos do Mundo
prostrados no chão.
Olha a Terra cansada
da eterna mesquinhez
de uma guerra e de uma paz.
Chora e berra e grita,
no silêncio da madrugada,
por um pouco de loucura,
por um bocado de Nada.

Liberta as asas leves
do teu pensamento.
Solta as rédeas
da tua alma nua,
quando, esvoaçante, o vento
te murmurar ao ouvido:
És Poeta.
És filho da condição humana.
Toma o caminho de santiago,
cavalga além das estrelas.
E no buraco mais fundo
da Terra sedenta de sentido,
num momento
de sensata insanidade,
revela ao Mundo
por que nasceu a Humanidade:
para ser Poema.


enquanto me ocupo de barbas e vestidos azuis, aparições e mortes vermelhas, aqui vão caindo poemas já com amizades aracnídeas (para quem não é 1/4 de entendedor, poemas antigos)

sexta-feira, abril 15, 2005

O Pescador Lusitano

O suave e dourado sol da tarde
em teu colo suavemente repousou,
enquanto teus olhos de todas as cores
em eterno azul se fundiram,
em lágrimas jorradas por amores
que te abandonando a alma sozinha,
em urros suplicantes se perderam,
nos confins do teu corpo de menina.

Teus cabelos doirados refulgem
à luz de um ostentante sol já cansado
de te estender seus braços ofuscantes,
a delirar,
de passar o tormentode só se poder prolongar
numa leve e fugidiailusão de uma carícia,
de tentar ter-te em vão,
enquanto o seu desejo te enche ainda mais de luz
e lhe arranca de ainda mais fundo a paixão.

A brisa de um ocaso adormecido
revolve teus cabelos finos
e ondula-os numa dança secreta de outras eras.
Um qualquer lugar esquecido,
para além do horizonte deste mundo,
foi teu berço, teu abraço,tua mãe, teu regaço,
de flores sem perfume inundado.
Eu sei. Tuas mãos dizem-me.

As mesmas mãos brancas e trémulas
que são teu único alentonas horas de solidão.
Que te envolvem enquanto choras,
que recolhem teu corpo nu,
encolhido numa palma de mão.
Que te afagam o rosto invadido
pelas enchentes de lágrimas
nos intervalos de cada soluço apagado.

E tu choras sempre,
não te dá o cansaço, a fadiga.
Choras quando ris,
por haver quem chore por ti,
choras quando um amante te morre
e mata de amor,
choras pelo sofrimentode não ter porque chorar,
choras por não saberque fazer ao calor
que te agita as entranhas até à loucura,
choras antes por não ter como parar.
És assim feita de lágrimas por dentro
e delas sacias fome e sede.

E como é lindo o teu corpo de mulher!
como, quando te vejo nua,
pareces vestida de beleza!
Tua pele bronzeada pela Lua,
esconde mil reflexos de arco-íris
e espelha tua própria alma.
O dia envolve-se no reino nocturno,
o céu enche-sede ténues nuances lilases,
azuis, amarelas e vermelhas.
Mas a tua tristeza é cinzenta,
como a noite iluminada...
Não há nuvens que te cubram
a nudez desamparada.
Não há vestidos de princesa,
nem jóias de sultões
que te possam servir.
Mas para a minha alma solitária
basta ver-te a sorrir,
surges esplêndida aos meus olhos!...

Basta isso, somente,
para que meu coração se encha de ardor
e minha alma se sinta vazia...
E me sinto só, completamente
e sinto frio, por não me envolver o calor
da tua tão sôfrega companhia.

O Sol já se pôs,
já nem me lembro dele.
E repousas no teu leito,
ao relento.
Tua boca são de rosas que não existem.
Teus seios um abismo de mim sedento,
teu ventre de promontórios derrubados.

A Lua sobe linda no céu,
vestida de diamantes em bruto,
enche-te os sonho de pesadelos,
cobre a noite de luto
e desafia a tua sobre-humana beleza.

Mas tu és mais linda.
Porque eu te amo,
porque eu sem ti não tenho mais nada,
porque eu sem um beijo teu
fico pobre e faminto,
porque me deixo embalar nos teus braços.
Minha alma torna-se pura
por nas tuas lágrimas se afogar.
Minhas mãos e as tuas
se prendem em laços de fogo e aço,
para não me poder jamais de ti separar.

Meus olhos pedem a tua íris de sete cores,
a minha boca pede a tua...
mas o teu amor chega em vagas,
em hesitantes marés de fulgores,
em desesperados gritos de gaivotas.
Teus abraços são fugazes...

E eu olho-te, linda, a dormir.
Minha paixão vê-te anjo,
mas sei que este amor terá um fim.
Um dia, num leito de amor,
tornas-te besta.
(como fizeste a outros antes de mim...)
Meus olhos vêem-te branda,
mas sei que és também diabo,
cruel e fera.

Tua fúria, teu amor,
meu fim sinistro:
por ti adentro hei de morrer.
Mas não desisto!
Sem teus olhos morro de pior maleita,
sem teu olhar condeno-me a sofrer.
Engoles-me e somente aí
me torno amor eterno para ti.
Choras, chorarás por mim.
Mas não vou fugir.

Minha pátria inteira
está dentro de mim,
enquanto te olho a dormir.
Comigo se entrega à morte,
só por te amar.
Somos um só nesta loucura.
Já só te ouço o respirar,
o marulhar das tuas ondas,
o teu cheiro a maresia.
Tomo fôlego e mergulho em ti,
Mar
da minha lusitana terra.



(a imagem não é muito lusitana, mas aqui fica uma homenagem a esse grande Hokusai e ao seu amor pelas ondas)


Este jé tem uns dois anos e algumas "falhas", talvez seja melhor chamá-las de características, tiques, mto próprias dessa altura. Um dia talvez as tente suavizar. Ou não. Mas por enquanto fica a ideia, a vontade e a paixão.

domingo, abril 10, 2005

Monólogo Dialogado Sobre A Morte Ou O Fim Da Vida


– Morte…
– Uma palavra tão estranha com um significado tão estranho… Quem a terá inventado? Essa enfiada de sopros e estalidos de língua…
– O que o Homem não sabe explicar, dá-lhe um nome!...
– E sim… porque não? Quem terá inventado então a própria morte, esse “termo da existência” como lhe chama o dicionário?
– Foi Deus?
– Não… esse está demasiado ocupado e escondido no buraco mais fundo e negro do Universo…
– Havia um grego…
– … o Epicuro, …
– Que dizia que ela é perfeitamente dispensável, uma vez que “quando existimos ela ainda não existe e quando ela existe nós já não existimos”.
– Que se foda o grego, deviam era ter-lhe dado um tiro nos cornos!...
– Mas não… não é a morte algo que vive connosco? Qual o limite desse “ainda” e desse “já”? Não é a morte uma certeza humana? (A única?)
– Como uma partícula no sangue, estranha, …
– Vinda de onde?
– … que nos vai invadindo as entranhas, devagar… devagarinho… a cada batida do coração, até, lentamente, nos chegar ao cérebro…
– À mente humana…
– E buuuum!... Explode-se tudo!
– Se calhar sai pelo nariz…
– Coisa nojenta!
– Não, pelo nariz não, pelos olhos! Sim, pelos olhos, e os miolos ensanguentados desfazem-se para sempre… o que estava lá dentro mistura-se com a chuva e com o vento… ninguém mais lhe poderá chegar…
– E dps?
– Que se lixe o depois, o antes é que é a aberração, o sofrimento, o desejo… o desejo de não desejar nunca mais, nunca, seja lá que merda for!
– A medicina define a morte não causada por motivos biológicos como uma “morte violenta”… mas… será? Será assim fruto da brutalidade?
– Não pode ser como um banho quentinho? A minha mamã antes metia-me numa banheirinha grande e rosada… Nunca mais… Não me lembro da última vez que me deu banho…
– Coisa nojenta!
– Primeiro fecham-se os olhos…
– As entranhas dissolvem-se aos poucos, em água da chuva e escorrem sem dor… faz-se silêncio…
– Sim, não se ouve mesmo nada… nem vozes de lado nenhum, nem nada…
– Um silêncio como no meio dos espaços entre as estrelas, um silêncio sem almas, vindo do vácuo… está escuro…
– Quem é que apagou as luzes?
– Foi Deus?
– Talvez no buraco mais fundo e negro do Universo não tenha nada para fazer…
– É uma chatice não ter nada para fazer, não ter com quem brincar… eu uma vez…
– Não ter amigos é uma solidão completa, a escuridão completa, a morte completa…
– Não ter quem nos coleccione as lágrimas por nós…
– Antes que nos dissolvam os miolos…
– Coisa nojenta!
– Que se esqueçam as utopias! Na Vida o Homem nunca terá paz, nem sozinho…
– Quietinho, sem se portar mal… a mãe disse…
– …nem entalado em amigos.
– Quais amiguinhos? Gentinha asquerosa é o que há à minha volta mas já lhes dou utilidade… BUUUUUM!...
– Já todos tentámos, desde que deixámos de ser macacos.
– Toda a infinitude de formiguinhas…
– Já procuraram o sossego da alma onde podiam procurar, não restam dúvidas… Há os persistentes, escavam a Terra toda, derrubam tudo, erguem escadas que arranham, rasgam, furam o céu, mas nunca a encontrarão…
– Nem uma única formiguinha…
– Porque a paz é a morte…
– Mas porquê? Quem me garante? Deve haver alguma coisa que se possa fazer, um elixir, uma geringonça, …
– …uma bomba!
– Onde está Deus quando precisamos dele?
– Num buraco, fundo e negro…
– O metal do revólver do meu pai e a faca da cozinha reflectem tão bem a luz das estrelas! Tão pequeninas… Como as formigas do quintal…
– As estrelas também morrem… É a coisa mais triste do Universo… incham que nem balões rubros e depois ficam pequeninas, pequeninas, insignificantes…
– E depois, … e depois…
– Há grupos de golfinhos que se suicidam em conjunto… Nadam até uma praia, sem razão aparente, encalham e ficam ali, à mercê do sol, a desidratar aos bocados.
– O universo talvez um dia também morra… Sim, se ousar tocar no infinito… Nesse infinito…
– Quero rebentar com isto tudo! Com vocês todos! Comigo mesmo!
– Destruir a humanidade para que ela não se destrua a si própria…
– Um favor à Humanidade…
– O suicídio não é uma conquista humana… é biológico…
– Podia ser como num sonho… Um sonho… Eu abria as asas e voava… voava… até onde?
– Até quando?
– A Vida…
– Até quando a Morte?
– Muitas vezes quando conseguem devolver os golfinhos ao mar, eles dão meia volta e regressam à praia…
– À morte…
– Sempre ela, negra e bela como uma manhã sem sol…
– Uma deusa pronta para se entregar a mim, seu senhor!
– Nunca mais teria de me esconder, mo vazio onde só eu existo!...
– Ou tenha deixado de existir…
– Voar, voar, voar…
– Além das estrelas.

quarta-feira, abril 06, 2005

Bailarina


Meus pés num tapete de folhas
feitas de vento e oiro se perdem.
Minhas mãos esvoaçantes tecem
grinaldas de mil e uma cores,
como rastos de uma estrela decadente.
Meus ofegantes sopros agitam as flores
invisíveis que povoam os ares.

Meus olhos de um olhar ausente
do tempo se perdem.
A Lua grita-me, lá do alto,
meus ouvidos se prendem
ao silêncio dos seus lamentos.

Rodopio sem sentidos
por entre criaturas de outros sonhos,
de outras histórias,
de um sem fim de memórias
esquecidas
nas ramagens perdidas de mim.

O silêncio da terra
Expirra perfumes, fragrâncias
de paragens incertas
O chão húmido e vivo sufoca
em oprimentes ânsias
por baforadas de oiro e azul,
sob meus pés de anjo desterrado.

O Sol deposto e odiado
solta urros de saudade
de quem tem medo da noite,
solta laivos de claridade
por entre ramagens entregues
ao domínio subtil e mágico
de mais um crepúsculo.
Cobre meu corpo abandonado
de jóias e brilhos cintilantes,
num último intento desesperado
de se prender para sempre
a este mundo dos vivos.

E o céu veste meus olhos
de cores perdidas
na confusão do nascimento do mundo,
de cores esquecidas
por ninguém que as lembre.

Tornei-me árvore sem raízes
que baila mais leve que o vendaval.
Tornei-me árvore, animal,
tornei-me o próprio cheiro do bosque.
Sou dele, sou de ninguém.
Só de mim ando perdida,
só a minha alma anda fugida
ao meu próprio entendimento.
Então deixo-me voar...

Voo e solto-me à guarda
deste espírito escondido.
Rodo e balanço
entre este mundo e o esquecido.
Então as folhas altas
em altivos pássaros
se transformam,
o seu roçagar sussurrante
é agora estrondosa sinfonia de flautas
e cores e sons se misturam,
invadem-me e explodem
nas minhas entranhas,
num delirante êxtase de paixão!...

Cai a noite, o silêncio e a escuridão.
A minha alma encontra-me,
adormecida no chão.
este jah tem barbas, mas continua a ser um dos meus preferidos ;)
escrito e inspirado no meio de pinheiros,no porto

terça-feira, abril 05, 2005

Parto

Saltando as pedras duras da calçada
minha mãe conta as moeditas que tem
no bolsinho da saia rodada,
para comprar rebuçados.

Cabelo entrançado em seda,
daquela que cospem os anjos,
fogem-te ondas dessas águas revoltas
por cada saltito que empinas.

A cada salto que empinas
os sapatitos se te ritmam
nas pedras duras da calçada.
E o som das teclas berra aos homens,
como do pó os montes vão e voltam.
E em oração a pele se roça
às pregas redondas do vestido vermelho,
vestidinho encarnado de perdição.

A minha mãe pequenina
põe o mundo a girar,
enquanto salta nas pedras da estrada.
E pinota a criança despenteada
de tanto e tanto rodar e saltar!...

Ouvindo o mundo como ao silêncio,
minha mãe salta no caminho.
Enquanto o mundo roda.
Enquanto as carroças, já com rodas,
não te velando para voltear,
por ti acima saltam a rodar.

Os cabelinhos se lhe espalham,
o vestidinho se lhe abre
num delírio de vermelho vivo
contra a morte da mãe pequenininha.

Numa idade de não morrer,
minha mãe se desfez no pó dos montes.

E eu?
Que tenho de existir se não nasci?
Se minha mãe não me fez, não me teve?
Se sou só por vontade própria,
contra a vontade do mundo?
Se não comungo com a natureza ,
se não conluio com os homens?
Se me confino ao fundo da identidade?
Se até Deus se pariu!


Numa noite entre os lençóis, suspirando,
minha mãe que poderia ter tido
me ensinava que do pó vão as montanhas.

domingo, abril 03, 2005

Mais Nada

O que é que se diz quando não são precisas palavras? Fala-se do tempo? Que corre, que chove? Fala-se do lixo? Que nos suja, que nós sujamos? Chora-se? Ri-se? Ama-se?
O que é que não é feito de palavras? As brincadeiras têm todas nome, os mudos fazem palavras com mãos e pés e lábios e olhos, ao vazio chamamos vazio. E falamos sobre ele.
O que é que se deixa por dizer quando só nos restam as palavras? Fala-se de Amor? Fala-se de História e de Filosofia? Mas não se fala das cores, pois não? Nem do toque e do cheiro das folhas. Não nos lembramos do som da gaita-de-beiços do amolador. Acabamos por não falar de nada. Acabamos por não nos lembrar de coisa alguma. Só do nome que lhe demos.
E quando todas as palavras se gastam ou perdem? Morre-se.E quando nos esquecemos de todas elas? Somos Deuses.

Understanding


universal language