quarta-feira, março 23, 2005


just keep swimming...just keep swimming...

domingo, março 13, 2005


o meu morangueiro

Rotações

O exército de formigas aladas
invadiu o chão
o pão de centeio que me come.
Se eu soubesse de que era feito
o silêncio do esparguete
e do filete de peixinhos do mar
eu saberia amar
com todas as almas que tenho.
E seria só isso e nada mais
que nas trôpegas e andarinhosas voltas
da bola de coisa nenhuma
que as formigas invadem
que preocuparia as girafas
mais altas da Torre de Eiffel
e da Torre de Babel
onde as ridicularidades
trocariam de lugar com o chão
e seriam coisa nenhuma.
E as toupeiras de
lá saltariam felizes
da vida sem nada para trabalhar
e tristes
e mortas
por não ter o que escrevinhar
paradas a olhar
o infinito
e o amar
seria esquecido
e tudo voltaria ao início
quando se não soubesse
o que lá fazia o dito infinito.

((inundações, rotações e outras coisas terminadas em "ões" tais como broca, parafuso e martelo... além disso algumas correntes literárias tendem a engolir a palavra autocarro......... há gente que só se sabe repetir.........))

sábado, março 12, 2005

Batalha Ou Morte



As nuvens entornam-se em degelo.
Os meus ares trovejam.
Tudo o que me julgam e arbitram ser eu cai
aos pés de um dos deuses do meu altar,
que premonitoriamente me pisam
na predestinação do mundo para o caos.

O meu sangue desfaz-se na saliva
dos condenados, que rodopiam
e estremecem no fim de tudo.

Porque o tudo nasceu de mim
e eu nasci do nada,
onde tudo será eu nesse final.
Nesse final de dia
em que o meu corpo crepuscular entra
por entre a chuva ácida que o eternifica.
Por entre a iniciação de um embrião novo
Que bóia ondulado à salvação.

O aço fura e corta e dói
Onde o nada toca e não podia doer.
Os trombones da retirada sabem-me
a mel nos dentes e nas mãos.
O vento de fumo e de gritos
Leva os restos de mim ao relento.

Mas eu vivo no fogo da minha perdição,
eu empunho a minha espada por mim dentro
e degolo quem me mata,
quem me revolve à destruição,
quem me silencia as palavras de amor e de vida,
de amor pelas florinhas e ervinhas do campo.

Que me contornam a sepultura.


primeiros versos soltos no meio da rua do alportel
por volta das três

dia 11 de março
...
continuo à espera

quarta-feira, março 09, 2005


i'm just waiting for me to return home

terça-feira, março 08, 2005

Inundações

Eu sento-me.
Tu sentas-te.
E a conversa flúi sem palavras,
sem a intenção de as formar,
sem vontade de as dizer.
E a mim,
presa a outro mar de frases sem nexo
fogem-me os olhos com o embaraço
de quem se quer perder.
Sôfrego, puxas a minha vontade prisioneira
com uma dor de náufrago
e vês-me fugir de novo.
O silêncio fez-se chuva fervida
e embala o banco em que te sentaste,
as ondulações oscilantes das marés sem palavras
ondularam-me para costa incerta.
e tu, inundado, afundaste-te para sempre

quando me viste fugir de vez.

O Quarto

Por momentos pensei que me esmagava. Os meus pés fincaram-se no chão como se nunca tivessem sido de outro lugar. Interromperam o meu vaguear monótono e despreocupado com um baque surdo que só eu ouvi. Deixou de soar o eco dos meus passos pelos corredores largos e claros, mas o meu coração inchava a ponto de me sufocar de sangue. Gotas geladas escorregavam pelos meus dedos e entre os olhos. Eu devia ter nascido ali. Ouvia os guinchos da minha mãe morta mas não lhes liguei nenhuma. Estava especada e apaixonada. Até as luzes se apagarem eu não ia a lado nenhum. Não tinha absolutamente mais nada para fazer que fizesse o mínimo sentido. Nada que importasse. Nada que eu quisesse. Os meus olhos eram o centro do mundo e reflectiam o mundo em que rodavam. As linhas das paredes inclinavam-se devagarinho e apertavam-me. Estava presa. Comecei a chorar. Por causa dos azuis. Eram como o mar que eu trazia no meu peito. Eram azuis. E sangravam. E das rugosidades evaporava solidão e tristeza e mágoa. E os verdes abriam um buraco para o infinito em que eu me podia encher. E no esforço de trepar pela encosta do absoluto, fiquei cansada. Deixei-me desmaiar por entre os lençóis esbranquiçados e a minha colcha vermelha. Tive sede. Bebi água. Estava suja de suor. Lavei-me. Senti o cheiro a lavanda da toalha onde entranhei o rosto e abandonei o resto das lágrimas. E voltei a aconchegar-me na cama alta. Estava dentro de mim, e continuava erecta em frente ao espelho. Que me reflectia em luz a alma. Os meus olhos rodavam sobre a essência dos homens. O inalcançável. Inspirei o que pude, fiz o esforço derradeiro de fechar os olhos e os meus passos voltaram a provocar eco pelos largos, altos e claros corredores frios.

Arles, 1888/1889
Huile sur toile

Le Petit Prince

all alone with love

segunda-feira, março 07, 2005

Sala Amarela II


Irremediavelmente iluminada
por uma congelante e tão distante
luz tão branca de um Inverno tão negro,
porque as paredes são tudo janelas
e onde o chão é só somente um buraco,
eu estou só e rodeada de gente.
Sinto o roçagar suave e sadio
da seda de relva nos meus pés
e deito-me no silêncio tardio
sobre o areal cozido pelo sol.
Os hipopótamos bailam por entre
os sussurros de juncos sorridentes
enquanto os corpos nus se banham
no alto sol da doca à meia noite.
E tudo sossega de manhã num
Inverno negro e entranhado nas
profundezas das paredes vidradas
saciadas pela branquidão do espaço.
Na calma surge o som esfumaceante,
ondulando o calmo e rosáceo mar
de um alto comboio a saltar as tábuas
a abarrotar suas fundas entranhas
de vis e vãos passageiros invisíveis.
E tudo se acalma e tudo sossega.
E tudo tem paz e tudo adormece.

Num todo Inverno tão negro e tão claro.

Sala Amarela I



Na penumbra desta sala amarela
que engana o tempo lá fora,
os sons monótonos e melancólicos repetem-se
como campânulas sussurrantes de ferro
ressoando numa catedral imaterial.
As sombras difusas e lentas movem-se,
de fininho,
nas réstias de luz filtrada
pelos diamantes das janelas.
E os sons moribundos vão e voltam
e foram e regressaram sem tempo
e ecoam nas solidões
das mentes humanas.
Tudo aqui se sente maquinizado e químico
como uma fábrica de embriões,
obedecendo cegamente às leis
vis e estapafúrdias do Universo!
Como são tristes os limites
quando se dizem proibidos…
Quão tristes são os sentidos
sem vontade de os sentir,
sem vontade de trepar pelas paredes
de saltar pelas janelas,
de se perder no infinito.
No vazio.Já sem estrelas.

domingo, março 06, 2005

Asas


No ínfimo silêncio da noite
eu grito à multidão
que, louca de solidão,
sopra cheiros de morte
à aragem vazia.
De que servem olhos que não vêem?
Corações que não sentem?
Almas que não sofrem?
Já eu,
abrindo as minhas asas no fumo agreste,
nem que chovam fogo e agulhas
deixo de voar em queda livre.
Para voltar a cair
no ínfimo silêncio da noite.
Que me aperta.
Que me sufoca.
Que me depena.
Dedo a dedo.
Grito à multidão louca
no vazio da morte
e da pouca vida que renasce em mim
quando abro as minhas asas molhadas
ao fumo agreste.