quarta-feira, abril 06, 2005

Bailarina


Meus pés num tapete de folhas
feitas de vento e oiro se perdem.
Minhas mãos esvoaçantes tecem
grinaldas de mil e uma cores,
como rastos de uma estrela decadente.
Meus ofegantes sopros agitam as flores
invisíveis que povoam os ares.

Meus olhos de um olhar ausente
do tempo se perdem.
A Lua grita-me, lá do alto,
meus ouvidos se prendem
ao silêncio dos seus lamentos.

Rodopio sem sentidos
por entre criaturas de outros sonhos,
de outras histórias,
de um sem fim de memórias
esquecidas
nas ramagens perdidas de mim.

O silêncio da terra
Expirra perfumes, fragrâncias
de paragens incertas
O chão húmido e vivo sufoca
em oprimentes ânsias
por baforadas de oiro e azul,
sob meus pés de anjo desterrado.

O Sol deposto e odiado
solta urros de saudade
de quem tem medo da noite,
solta laivos de claridade
por entre ramagens entregues
ao domínio subtil e mágico
de mais um crepúsculo.
Cobre meu corpo abandonado
de jóias e brilhos cintilantes,
num último intento desesperado
de se prender para sempre
a este mundo dos vivos.

E o céu veste meus olhos
de cores perdidas
na confusão do nascimento do mundo,
de cores esquecidas
por ninguém que as lembre.

Tornei-me árvore sem raízes
que baila mais leve que o vendaval.
Tornei-me árvore, animal,
tornei-me o próprio cheiro do bosque.
Sou dele, sou de ninguém.
Só de mim ando perdida,
só a minha alma anda fugida
ao meu próprio entendimento.
Então deixo-me voar...

Voo e solto-me à guarda
deste espírito escondido.
Rodo e balanço
entre este mundo e o esquecido.
Então as folhas altas
em altivos pássaros
se transformam,
o seu roçagar sussurrante
é agora estrondosa sinfonia de flautas
e cores e sons se misturam,
invadem-me e explodem
nas minhas entranhas,
num delirante êxtase de paixão!...

Cai a noite, o silêncio e a escuridão.
A minha alma encontra-me,
adormecida no chão.
este jah tem barbas, mas continua a ser um dos meus preferidos ;)
escrito e inspirado no meio de pinheiros,no porto

4 Indiscrições:

Anonymous Anónimo cuspiu...

Sabes? Até magoa a alma ler poemas tão profundos. É incrível a densidade e a textura que depositas em palavras que tocam no âmago da beleza e a sinfonia de tons que perpassam pelas estrófes. Continua assim! Parabéns!

abril 06, 2005 3:46 da tarde  
Anonymous Anónimo cuspiu...

É incrivel como me sinto tão inferior ao ler os teus poemas que são deveras grandiosos...Parabéns, continua assim. Não admira k este seja um dos teus favoritos, é bem bonito...e já agora, já pensaste em fazer um livro com estes poemas??? Suponho k tenhas suficientes para criar um...concerteza seria um sucesso...;-)

Fika bem, bjs

abril 07, 2005 1:10 da manhã  
Blogger M cuspiu...

nao,acho k n tenho suficientes..nao suficientes k achasse k merecessem...mas inda tenho tto tempo,tto poema pra escrever..sinceramente acho k m havia d sentir extremamente ridicula,sou mmo assim.ateh pk pra fazer uma coisa dessas tinha k achar os poemas geniais mmo.e sao meus.pessoa tb só publicou a "mensagem".LOOOOL belo exemplo micas,es mmo idiota ;)

abril 10, 2005 8:47 da tarde  
Anonymous Anónimo cuspiu...

Tocante e sensível...muito bonito. Gostei deste teu espaço, os meus passos andarão por aqui...

Filipa
http://almaaovento.blog-city.com

agosto 07, 2005 11:59 da tarde  

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